Páginas

22.6.13

#01 - O dia mais feliz da minha vida



Quando você partiu achei que não ia ter saída. É sempre assim, nós pensamos no trágico, ficamos desesperados, cegos, alienados, o mundo parece que acaba e sofremos como se nada fosse ter solução.

Achei que eu ia amargar essa angústia para sempre, essa ausência, solidão, carência, um amor que nunca mais teria igual.

Fiquei desesperado, pensei em coisas perigosas, cheguei ao extremo. O tempo parecia que nunca ia passar, não tinha por que passar, ia ficar parado, assim, para sempre.

Era uma realidade dentro do meu mundo.

Eu me escondi por segurança, ou por falta de vontade de viver. Falta de vontade de me relacionar com as pessoas. Eu criei um mundo particular, sem você, mas por você, onde eu pudesse me esconder. Inventei um mundo sozinho, onde eu não queria que houvesse o amor. Uma realidade paralela que só você poderia me tirar.

Quase me entreguei à depressão e criei vários mundos particulares como forma de suprir a falta que você me fez.

É uma tortura quando dois amores são separados pelo destino, e o mundo impede ele de acontecer. Fiquei alienado nesse desespero, enquanto tudo passava. Eu tinha a esperança do tempo resolver as coisas e fazer eu entender que o destino é único e que não adianta questionar ou tentar mudá-lo.

Mesmo com o tempo as lembranças nunca se desgrudaram de mim, ele alimentou o desespero da saudade. Todo o período que vivemos juntos se manteve vivo, se tornou realidade.

Dia 27 de agosto de 2011 sempre eterno. Um dia que não acabou e nunca acabará em mim, em nós. Nosso amor é único em minha vida. E foi assim, mês a mês, dia a dia, resgatando você e a nossa história, que eu te esperei, de corpo e alma, na esperança desse dia, na esperança do reencontro.

Agora eu sorrio à toa, sorrio por bobeira, não consigo tirar isso do rosto. Reencontrei a alegria e não ligo mais pra nada. Encontrei as razões que eu tanto procurava. A metade de mim que se perdeu está voltando ao lugar. O mundo pode acabar que eu estarei completo.

Que tenha sido um teste para o nosso amor, que tenha sido a prova de que temos sentimentos sólidos e que possamos fazer todos os planos e juras de amor, porque tudo isso é mágico.

É mágico saber distinguir o dia mais feliz da sua vida.

Eu sempre imaginei o que falaria em uma entrevista quando o repórter me perguntasse algo do tipo:

- Qual foi o dia mais feliz da sua vida?

Eu me frustrava por não ter resposta na ponta da língua. No aeroporto eu descubro que agora tenho.



21.6.13

#02 - Chegou a hora (ou quase)

Foto de Roberto Cambusano

Chegou a hora de renascer,  voltar a viver, colocar pilha no relógio, atualizar o calendário.

Chegou a hora de dar mais valor à vida, de aproveitar os segundos, de viver cada dia como se fosse o último.

Chegou o dia de ver tudo colorido novamente,

Chegou o dia de sair da caverna, sair do escuro.

Chegou o dia de subir até o cume da montanha.

Chegou o dia de voltar a sorrir.

Não tem nada que me impeça disso.

Chegou a hora de ser uma nova pessoa.

Chegou a hora de fazer a revisão, de tirar o proveito, aprendizagens

Chegou a hora de fazer festa

Chegou a hora de cair na real, sair do nada e ter destino.

Chegou a hora de sair de um mundo de mentira, descartável.

Chegou a hora de entrar do conto de fadas

Chegou a hora de amar e sentir

Chegou a hora de pegar, apalpar, retomar o tato, o olfato

Chegou a hora de lembrar o que é beijar na boca, sentir o seu gosto.

Chegou a hora, é agora.

Mesmo incompleto não tem essa de desistir, é esperar.

Chegou a hora de reconhecer que a esperança é a força que nos permite sempre acreditar.

Chegou o dia que a vida vai mudar,

Chegou o dia mais feliz da minha vida.


20.6.13

#03 - Geada


Enquanto a geada compõe a estética do jardim matinal, eu olho pro céu enquanto tomo café.

Parece sonho, mas não é. Tô olhando pro céu pra ver se passa algum avião. Ou será que ela vem de trem? De bicicleta?

Que venha voando, batendo as asas, mundo à fora, e retorne para o seu abrigo e proteção.

Eu só queria saber se você dormiu bem. Se você acordou bem. Se as malas estavam prontas. Mas não existe telefone sem fio que me dê essa resposta.

Meu coração palpita cada vez mais forte e acelerado. Inevitável não saber o por quê. 

Quero te proteger de todos os males da vida. Quero te blindar de tudo e de todos. E quero te receber de braços abertos. Você mora dentro de mim e seu abrigo é nos meus braços.

Que esse sonho se transforme no dia mais feliz da minha vida.

19.6.13

#04 - O mundo volta a ser um só

Flávio Scholles - Casal na cama

Os dias são relativos e me levam pra dois mundos, dois lados. Enquanto eles passam, aumentam a saudade pela distância entre nós dois, e, por outro lado, me faz saber que é um dia a menos para o reencontro.

O fim se aproxima, e chega a hora de voltar no mesmo lugar em que te vi partir. Não entendo até hoje por que fiz isso. Eu abri o próprio abismo em que me afundei, parece eterno, mesmo que temporário.

Da despedida ficou o beijo salgado de nossas lágrimas misturadas, e o sacrifício de um abraço interligado pelo nosso magnetismo. Um abraço com começo e sem fim.

Guardei nosso beijo dentro de uma concha e não lavei a camisa que eu usava quando nos despedimos, seu cheiro ainda estava ali.

A impotência de te ver entrar na sala de embarque e não poder mais te alcançar, de dar o último beijo, mesmo que nessas ocasiões nenhum beijo satisfaça a despedida. Logo, você já estava misturada com as estrelas do céu do outro lado do mundo.

A saudade que eu deixei partir, que me fez viver, me fez sentir.

Nas lembranças é impossível conter a dor, que aos poucos é substituída pela alegria e pelo sorriso.

Eu corro, a mil por hora, em qualquer hora, eu corro até você, eu corro pra te ver de novo.


18.6.13

#05 - Asma



Durante toda a minha vida foi assim: Asma.

Foi pressentimento.

Falta ar. 
Muito ar. 
Respiração ofegante.

Ansiedade é armadilha.
É egoísmo querer chegar mais rápido que o tempo.
É egoísmo não cumprir etapas.

Mas você me leva a isso. 
Minha cabeça me leva a você.
Eu quero chegar em você, e não deixar você chegar em mim.

Atitudes são consequências.

Meses passaram sem significado, sentido, à toa.
Olho por todo o lado e o mundo não para, mas eu parei.
Tudo passa por mim e eu não saio do lugar.

Suspiro essa ansiedade de te consumir e aproveitar o tempo perdido.
Tempo que convivi com uma falsa derrota.
Uma derrota criada em mim. Derrota da sua ausência.

É um sacrifício respirar.
Não consigo dormir,
Sonho acordado, na cara dura.

E só o seu cheiro será capaz de me tirar dessa insuficiência respiratória.


17.6.13

#06 - Melhor amigo do homem (ou das nossas crianças)

Chad Spector - UT, USA

Queríamos ficar até mais tarde na cama, mas eles nos acordavam à força, aos beijos, às lambidas. Forçavam nossas mãos com o focinho em troca de carinho. Não queríam saber, eles tinham essa liberdade, entravam e saíam do quarto na hora que quisessem. Arrumavam um espaço no meio de nós, no quentinho do edredom, e achavam um jeitinho de dividir a cama com a gente.

Snow só atende aos chamados em inglês, a dona preferiu assim.

Galileu não atendia a chamados. Era do tipo arteiro, irresponsável, que só queria brincar, só queria carinho, chamar a atenção.

Um gostava de nadar. O outro, de cavar buracos no jardim. Os dois gostavam de bolinhas.

Quando os gêmeos nasceram, eles passaram a dormir ao lado do berço. Não arredavam dali e latiam se algum estranho se aproximasse. Pena que o latido acordava as crianças, que depois ficavam inquietas, querendo brincar.

A primeira palavra que Fred disse foi "now now"; Sophia, "ieu ieu"...

Quando as crianças estavam no carrinho, eles estavam de pé, ao lado, lambendo-as. Gostávamos desse hábito. Elas se sentiam seguras. Eles, protetores. Faziam o papel deles. 

Na maioria das vezes colocavam, com a boca, a bolinha dentro do carrinho e depois ficavam esperando que elas jogassem. 

Mas hoje Galileu e Snow invadiram o nosso quarto, puxaram a coberta desesperados, queriam chamar nossa atenção. Pensamos nas crianças e corremos para o quarto. Era só uma bolinha que caiu embaixo do berço...

Melhores amigos se ajudam, se amam, se protegem. Eles são nossos melhores amigos, e nunca haverá preço que pague por isso.

Eles querem atenção e companhia e nunca sairão de nosso lado. Pena que não duram para sempre... Mas prefiro pensar nisso outra hora.

16.6.13

#07 - Ansiedade

Rodrigo Dada - El Salvador


Sonhava com você todas as noites. E, quando não, parecia não dormir. Fechava os olhos só pra deixar o tempo passar.

Minha mãe me ensinou desde cedo que devo orar antes de dormir, agradecer e pedir as coisas pro papai do céu. Tornou-se rotina pedir toda noite pra sonhar com você.  

Quando sonho, às vezes acordo sorrindo, às vezes chorando, outras vezes volto a dormir pra continuar o sonho.

Dia desses pedi para não sonhar. Já tinha cansado de te pedir em sonho. Queria você de verdade comigo, pele a pele, corpo a corpo. Mas, sonhei. Sonhei que você estava voltando.

A partir disso os últimos dias foram com os olhos abertos, e o meu maior desafio foi lidar com a ansiedade.


15.6.13

#08 - Carrego os dias nas mãos

Pablo Picasso - Espanha

Um dia, ela foi embora. Saiu de casa sem mais nem menos.

Eu a procurei por todos os cantos, por  resquícios que pudessem denunciar seu paradeiro. Procurei dentro de mim. Adentrei as cavidades mais profundas e só encontrei o amor e a saudade que cresciam descontroladamente.

Apalpei a cama, procurei por toda a casa, abri gavetas, armários, convivia com a sua ausência.

Sua imagem era tão viva, ainda, que quando o telefone tocou eu achei que era ela e atendi com um "Oi, Baby".

Então o interfone tocou. O porteiro estava com uma carta dela na portaria. Era um cartão-postal da Disney e um xerox da sua passagem de volta.

Eu já podia contar o tempo que restava. A partir daquele momento, cada dia da semana seria o último sem ela.

14.6.13

#09 - Chegou pelas ondas

Igor Sperotto - Porto Alegre

Não sei como fui parar na praia, mas já estava lá, de pés descalços. 

As ondas quebravam em minha frente, parecendo que queriam me arrastar para o mar, mas meus pés se fincavam ao chão.

Todas as energias que me sobrecarregavam havia um bom tempo pareciam ir embora com aquela brisa e afundar em alto-mar. Não queria compartilhar dessa solidão, mas já compartilhava fazia muito tempo.

Uma onda, maior que todas, me atingiu. 

Acabei caindo sentado na areia, mas depois que ela foi embora percebi uma garrafa. Era uma garrafa de vidro transparente, com uma rolha que a tampava. 

Dentro dela, uma folha enrolada. Aquilo me pareceu coisa de filme, conto de fadas, ou qualquer coisa do tipo. E eu li com um sorriso de orelha a orelha, indisfarçável:

  
"Meu amor, desculpe por todo esse tempo em que te deixei só, sem notícias de mim. Precisava desse tempo. Precisava entender o que a vida quer de mim. E ela me mostrou.

Volto dentro de uma semana. 

Continuo a mesma pessoa que te deixou meses atrás. Continuo com o mesmo amor por você, esse amor que só cresceu e se tornou forte e sólido. 

Pertenço aos seus braços, e que essa eternidade não tenha fim."




13.6.13

#10 - Dia de Santo Antônio

Foto de Julio Sampaio - Portugal

Chegamos a fazenda no fim da tarde. Era dia de arraiá. Dia de Santo Antônio Casamenteiro. 

O sol já estava indo embora, mas por estarmos isolados da cidade, rodeados pelo campo e pelo pasto, o céu trazia uma cor belíssima. Já nos devidos trajes de caipira, com chapéu de palha, maria chiquinha e dente faltando, selamos nossos cavalos e fomos até a igrejinha da fazenda vizinha, onde ia acontecer o arraiá.

No meio do caminho eu decidi mudar os planos. Pedi para ela me acompanhar e comecei a trotar mais forte com o cavalo. Ela ficou para trás, mas não me perdeu de vista e ficou gritando para que eu a esperasse. Não dei bola, fazia parte da brincadeira. 

Chegamos ao mirante improvisado no pico do pasto. Ela queria me matar por eu tê-la feito correr tanto. A luz natural começou a ir embora, e nós fomos ficando no escuro e então ela percebeu por que eu a tinha levado ali. Em primeiro lugar, não ficamos no escuro, o céu estava todo estrelado e a lua iluminava todo o campo. As luzes da cidade começaram a se acender aos poucos, e de uma hora pra outra a paisagem ficou linda. 

- É lindo! - ela disse.

Olhei pra ela e vi que as lágrimas escorriam no seu rosto de caipira. Ela chorava compulsivamente. A surpresa a atingiu de uma forma inesperada que aflorou a sua sensibilidade. Ela me encarou e não conseguiu fazer nada, apenas me abraçou com muita força. Eu a coloquei em meu peito. Queria que ela se sentisse segura perto de uma pessoa que a ama. Uma pessoa que sempre terá um abraço acolhedor nas horas difíceis. Ficamos uma eternidade abraçados. 

Eu me ajoelhei ao lado dela, peguei as duas alianças no meu bolso e...

- Quer casar comigo?

Ela não respondeu.

Depois disso fomos para o arraiá, entramos na igreja e fizemos questão de agradecer o Santo Antônio, o Santo Casamenteiro.

Viva Santo Antônio!
Viva o nosso amor!

Mesmo que por enquanto fique só na quadrilha.

12.6.13

#11 - FELIZ DIA DOS NAMORADOS



Quero escrever pra você, meu amor. E não tem literatura que supra a sinceridade do olho no olho. Hoje eu não posso olhar nos teus, mas deixo que essas palavras olhem por mim.

Cansei de imparcialidade. Decidi ser parcial. Decidi assumir. Falar diretamente para você, Thainá.


Feliz dia dos namorados pra você que não está presente ao meu lado, e sim aqui dentro. Está impregnada na alma assim como o seu perfume ficou em minhas lembranças.

Cansei de me frustrar procurando palavras pra tentar descrever o meu amor por você. Eu me frustro e sofro. Meu coração dói. Dói tanto. Mas não adianta, a vida inteira vai ser assim, nenhuma palavra ou prova de amor chegará aos pés de tudo que sinto.

Somos prova de que não há distância que nos impeça de amar.

Longe de você esse tempo foi sem graça e sentido, onde não derramei nenhum suspiro. Na sua ausência nada faz sentido, e eu também não quero. Prefiro ficar nesse escuro que já estou há 10 meses. Sem enxergar cor ou brilho em nenhum jardim, aquarela ou arco íris.

Eu te procurei pra tentar descobrir algum sentido, e chorei quando vi nossas lembranças no meu quarto, todas do mesmo jeito que você deixou. Sofri pelos resquícios que sobraram de nós.

O que me conforta é saber que essa é a última de tantas datas distantes um do outro, tantas datas em que só te achei nas recordações. Fotos e bilhetes que ainda estão na geladeira, nas cartas, nos presentes passados, no ursinho de pelúcia que está na minha cama, no frasco de perfume que você me deixou. Ah, esse seu perfume que ainda está no meu travesseiro. Queria tanto senti-lo em tua pele.

Como é bom se apaixonar e ter a certeza que a distância não é obstáculo. Se eu te esperei foi por amor e se eu faço tantos planos é porque acredito no 'pra sempre'.

Como é bom sentir o sabor do 'pra sempre'. Eu preciso de você ao meu lado, eu preciso do seu amor. Eu não quero mais ninguém na minha vida, eu só quero você. Quero construir o meu futuro com você.

E todos os dias eu tento provar meu amor como se não fosse ter a mesma chance amanhã. 

Que vivamos de provas de amor, de declarações,  flores, beijos e abraços. 
Que vivamos de olhares e sorrisos, que vivamos um do outro.

Eu te amo,

FELIZ DIA DOS NAMORADOS!

Guilherme Mendicelli




11.6.13

#12 - O casamento

Fotografia que circula na internet. Assinatura e autoria na própria foto.

Os dois se conheceram desde muito cedo e já sabiam que queriam se casar.

O problema, a princípio, foi a idade. A família não iria aceitar o casamento dos dois, tão jovens como eram. Depois mais um problema surgiu, esse mais grave ainda: a distância.

Um dia ele acordou e não viu ela ao lado. Ficou sabendo que partiu por causa de um bilhete que ela deixou na geladeira. Então tudo mudou.

A partir de agora ele não tinha mais motivo para sorrir e nem para sonhar, mas sonhou e acordou chorando.

Chorava em frente ao espelho, pronto para subir no altar. Um filme de sua história passou na cabeça durante minutos. Lembrou de quando eles eram jovens e faziam planos e mais planos não sabendo se um dia se realizariam. Agora, um dos maiores deles acontecia.

Segurou o choro e a esperou no altar.

Quando ela apareceu continuou chorando, não conseguia parar de chorar. Nem tentou.

Ela vinha em sua direção sorrindo. Os dois se encaravam e carregavam no olhar a gratidão e o amor. 

Gratidão de deixar o tempo preencher os sonhos fazendo com que acreditassem no amanhã; e amor de terem nascido um para o outro.

Até hoje não há relatos de qualquer interferência no relacionamento e continuam felizes preenchendo as páginas de uma história atemporal.

10.6.13

#13 - O laço que carrego no dedo



Quando você foi embora eu prometi nunca tirar a aliança do meu dedo.

É um laço a mais de todos os que já temos. 

Supre a sua presença no dia a dia, no meu lado, em todos os lugares. 

Esse detalhe de prata representa tanto que já virou uma parte de mim
Anda comigo e faz companhia na hora certa. 
De vez em quando até conversamos. 
Sempre faço carinho. Rodo você no meu dedo. 
Rodo tanto que às vezes o dedo machuca.

Embaixo dele está um pedaço que não pertece mais a mim, um pedaço de carne da pessoa que eu era antes de te conhecer. 

Embaixo da aliança existe um passado que eu não quero mais viver.

Minha pele está branca, quase transparente, preenchida pelo brilho desse anel de prata.

Esse anel de prata se alojou no mesmo lugar, tomou posse do território, um lugar de onde nunca vai sair. Só sairá se for para mudar de mão.

Na aliança, o seu nome e a data de quando nossa história começou. 
Seu nome está gravado em mim. 
A data é sem validade, é imperecível.

Meu dedo tem dona. Minha vida tem dona.

E a aliança só é mais um de tantos laços da nossa história.







9.6.13

#14 - Eu perdi as contas



Mais um domingo acordou sem você. 

Já perdi as contas de quantos foram esses que não passaram da monotonia
sem graça, cor e sabor.
Sem palavras, adjetivos, substantivos, 
sem inspiração nenhuma.

Perdi as contas de tantas as coisas. 
tantas as recordações, lembranças,

Não sei se é por causa de mim ou do tempo.

Um lugar que sobra na mesa do almoço com a família,
Um lugar que sobra no sofá na hora do filme da tarde.
A pipoca que sobra na panela,
Meu ombro vazio sem você pra se encostar e descansar.
A companhia na hora do jogo do Corinthians,
Nós dois na missa ou no culto,
Nós dois, deitados na minha cama, só por deitar, conversando sobre as coincidências do universo.

Falta tudo, até da cosquinha que eu te faço, antes de você ir embora.


8.6.13

#15 - Dia da saudade



O dia da saudade não tem graça nenhuma.

Ele é como todos os dias sem você.
Todos os minutos.
Segundos.

A mesma saudade, sem tirar nem por.

A saudade que me deixa analfabeto.

Cego.
Surdo. 
Mudo.

A saudade que me deixa incompleto.
A saudade que me deixa morto de fome.

Fome do seu corpo.
Fome da sua presença.

Essa fome que só saciará quando eu poder dominar cada célula de seu corpo.

7.6.13

#16 - Gratidão




O tempo, que antes saía do meu controle, agora cabe na palma das mãos.
A estrada, que antes não víamos o fim, avistamos.
O coração, que parecia desacreditar, acredita.

O sorriso, que antes quase não aparecia, aparece por tudo. 
Aparece à toa, de graça. 
Aparece sem eu mesmo perceber. 

Tudo que ficou estagnado, agora descongela.
O sol que ficou sem aquecer, aquece.
Queima e brilha.

Em todo canto, todas as coisas, todas as lembranças. 
Tudo é resquícios.
Tudo remete ao reencontro, aos nossos planos, à overdose de você. 

Os planos viraram ações.
Os sonhos, realidade.

E à vida, sobra a gratidão.

Gratidão de ter ao meu lado, permitir fazer  juras de amor, permitir pensar e chegar no amanhã.

Gratidão por ter te colocado lá, naquela hora, naquele momento, no primeiro momento do começo do resto de nossas vidas

6.6.13

#17 - Ingenuidade



Ingenuidade é achar que qualquer atração é amor. 

É falar que ama da boca pra fora por não ter tido a oportunidade de amar da alma pra dentro.

Amor verdadeiro não tem palavra que retrate; é achar que se conhece e descobrir que ainda não. 

O amor traz sentimentos que não conhecemos. É surpresa e frio na barriga. Sentimentos são lapidados e detectados com o passar dos dias, com a rotina, com a presença, com o abraço, com o beijo, com a necessidade de ter no dia a dia quem amamos.

Fica marcado como tatuagem. Único e perpétuo, mas só conhecemos ao acaso, quando menos esperamos, quando vivemos nosso primeiro e único grande amor. 

5.6.13

#18 - Os dias rastejam

Edward Hopper - Nighthawks

E os dias não passam, se arrastam. 
Não é à toa que você é a culpada de tudo que acontece no meu mundo. Você é o centro dele. 
Ele parou quando você foi embora. Estagnou-se. Meses passaram por passar, vegetaram em meio à saudade, à monotonia.
Dentro desse mundo eu sempre vivi de alegria, de sorrisos, declarações de amor. Vivemos juntos momentos inesquecíveis, interrompidos por essa distância que há de ter fim. 
Amar é viver diariamente com o medo da perda. E por amor eu vivo.
Vivi todo esse tempo incompleto. Amputado. Com um membro de mim faltando. A distância foi uma perda com tempo limitado, porque na nossa história a única coisa que é ilimitada, sem prazo de validade, é o amor. Um amor com direito a "pra sempre".
Queria que alguém pudesse me entender, mas a compreensão é relativa, e só aquele que amou de verdade poderá dizer.
E, na certeza de que a acomodação é o maior perigo de uma relação, o maior veneno, não me canso de agir da mesma forma todos os dias: acordo diariamente com o objetivo de provar meu amor por você. 

4.6.13

#19 - Agonizante como suicídio

Salvador Dalí

Meu coração vive com marteladas da vida que pregam centenas de pregos, perfurando ainda mais a minh'alma.

Sim, eu penso em me jogar do quarto andar.
Penso em me amarrar numa âncora e pular em alto-mar. 
Perder todos os sentidos afogado, torturado pelo desespero e falta de ar. 
Desespero que talvez seja menos agonizante que essa saudade.

Fecho os olhos no momento de loucura e me jogo dentro da banheira de casa. A água do chuveiro cai sobre a cabeça, me deixando aos poucos sem ar. Com a banheira já cheia, começo a escorregar para o fundo. Escorregar e sentir a água tomar todo o meu corpo, pescoço, minha cabeça inteira, até afundar. 

Os minutos passam, e eu sou tomado pelo desespero, pela agonia de ver sobre mim a superfície da água que me empurra para o fundo. Estou entre os extremos. O desespero da falta de ar e a liberdade logo em cima. Nessa hora é impossível não pensar nas suas palavras. 

Eu quero você, e a morte não me proporcionará isso. Você dizia pra mim que se eu fosse embora iria estragar nossos planos juntos, iria entregar você na mão de um futuro novo amor e fazer com que realizasse nossos sonhos com outra pessoa. 

Sim, é egoísmo da minha parte. Mesmo não tendo vontade nenhuma de viver sem você aqui. É egoísmo recorrer ao que há de mais fácil na frente. 

Engoli pouca água, mas voltei à superfície a tempo de não levar a ideia adiante. Tempo de me entregar ao que o coração não consegue suportar. Ofegante, chorei compulsivamente. 

Junto das lágrimas vieram palavras que foram diretas para o papel.

De repente, da janela vizinha, uma música. E, como o vento do mar em um fim de tarde de verão, Vinicius de Moraes sussurrou versos que preencheram uma parte do meu vazio:

"Amo-te afim, de um calmo amor prestante, 
E te amo além, presente na saudade. 
Amo-te, enfim, com grande liberdade 
Dentro da eternidade e a cada instante." 

3.6.13

#20 - Feriado

Adida Fallen Angel - Canadá

Fim de feriado é depressão, desespero, loucura. Não é nada fácil me despedir de você e voltar à rotina, voltar à realidade.

Feriado ao seu lado é paraíso, é sonho. É não perceber o tempo passar.

É começar a quinta-feira esbanjando entusiasmo e terminar o domingo esbanjando tristeza. Querer fazer os dias voltarem para ficarmos assim, um para o outro, integralmente. 

Chocolate quente, filme, edredom, pipoca, abraço, beijo, lugares novos, jogos de tabuleiro, jogos de carta, Toy Story, andar de bicicleta, de cavalo, comer os doces de mamãe.

Saber que a segunda está começando sem você é o fim. 
Segunda-feira é dia de fazer promessa, dia de regime, de trabalho, de estudo, de fazer surpresas.

Dia de mandar mensagem de bom dia e perceber a sua insatisfação com o sono e com a professora da primeira aula.

Dia de achar o maior número de programas que possam ser feitos ao seu lado durante a semana. 

Nada como parar tudo o que tenho pra fazer segunda, te ligar depois do almoço e dizer: 

- Amor, o feriado ainda não acabou. Nós criamos o nosso próprio feriado, criamos o nosso próprio calendário.

2.6.13

#21 - Um beijo

Arte de Gustav Klimt

Hoje acordei sem papas na língua, decidi falar o que estou sentindo sem nenhum ensaio pra isso.

"Estou com saudade do seu beijo!"

Ah, esse beijo molhado e gostoso.
Esse beijo suave em que nossas línguas dançam em perfeita sincronia.


Do beijo...
sem ensaio e repentino,
escondido e demorado,
quente a 1000 km/h,
lento e romântico.


Do beijo...
do beijo de língua,
de esquimó,
de liquidificador.

Que saudade...
de te ver na ponta dos pés,
de te prender no abraço,
de sair rodopiando sem direção.


Que saudade...
de sentir o seu gosto,
de morder seus lábios,
de ficar todo lambuzado de saliva,
sua saliva, nosso sabor,
sabor no nosso amor.

Nosso gosto compartilhado nesse mundo particular que adoro explorar.

Um mundo só nosso.

E essa saudade de saber o que é um beijo.

1.6.13

#22 - Bom dia



Sai de casa decidido como todos os dias. 
Enganei o porteiro e subi até o seu andar sem ele interfonar. 
Consegui bater na porta sem te acordar e fazer sua mãe abrir pra mim. 
Consegui convencer ela que você não estava cansada e que poderia acordar às 7 da manhã. 
Consegui a chave do quarto. 
Consegui abrir porta sem fazer barulho. 
Consegui fazer o cachorro não latir.
Consegui pular em cima de você de conchinha no edredom. 
Te abraçar sobre tudo e te encher de beijo.
Você abriu os olhos assustadas e quando sentiu o meu beijinho não exitou em sorrir. Resmungou um pouquinho, por charme e me abraçou.
Consegui te encher de beijos da manhã, sem você ter ido escovar os dentes. 
Consegui te mostrar o que escrevi no vidro da sua janela úmida da noite anterior. 
Consegui tirar um eu te amo de uma voz que resmungava de sono. 
Consegui cumprir o objetivo de todos os dias: Provar meu amor por você.