Um apartamento pequeno e praticamente vazio.
Comprei uma Olivetti e uma luminária no antiquário da rua de
baixo. Na primeira semana consegui um emprego de porteiro noturno, suficiente
para eu passar os dias escrevendo. Uma ocupação para as noites de insônia.
A palavra virou minha melhor amiga, enquanto a Olivetti
cuspia folhas e mais folhas ao chão. Caíam, sem nenhum ensaio, o dia inteiro.
Espalhavam-se por toda a sala e ganhavam vida.
Ela se materializou na minha frente, com um sorriso silencioso,
o mais lindo do mundo, no meio dos papéis. Sempre gostou de me ver escrever. E
eu, paralisado, não conseguia falar. Sorri também, sorri como uma criança que
ganha o presente que sempre sonhou. Precisava abraçá-la. Fixei meu olhar no seu
e levantei.
Talvez o silêncio pudesse ser plausível. Por um abraço, avancei pra
cima dela, com lágrimas nos olhos, e me vi jogado ao chão.
Na escrita, recriava a sua presença. Silenciosa e imparcial.
Só não recriava o seu abraço. Seus derivados. O derivado do reencontro, do
calor, da proteção.
Acuado, procurei por todos os lados, desesperado, e tudo
voltou a ser solidão. Silêncio. Sentei de novo para escrever e percebi na escrivaninha
um envelope, endereçado e vazio. Virei para a máquina e a página agora estava
em branco. Só poderia ter sido ela quem deixou. Havia um endereço fora do normal,
um endereço que eu nunca vi, mas escrito com as letras dela. Impossível não
reconhecer.
Escrevi dúzias de tudo que sentia e joguei dentro do envelope.
E, reduzido ali dentro, me senti abraçado, com uma certeza, poucas vezes
sentida, de que o ‘pra sempre’ poderia existir. Dentro de mim ele existia,
naquele momento.
O reencontro, então, virou um jogo de paciência.
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