Arte de Lauro Monteiro - Paraty, RJ, Brasil. |
O objeto que mais me intrigou na caixa foi o pincel. Não por
ser apenas um pincel, mas por estar com a tinta ainda fresca. Fez com que eu a
sentisse mais perto de mim, mais real, fresca, possível, e em nenhum momento
abstrata.
Com a tinta que ainda havia ali, eu pincelei a única parede
totalmente branca de casa. Uma curiosidade de fazer o impossível, fazer o
irreal por aquela que me deixou. Aquela que eu mais amava. A pincelada foi de
um canto a outro da parede. Na imensidão branca que se abriu, aquela aquarela
de cores variadas, difusas, se espalhava em apenas uma faixa no centro.
Quando eu terminei, olhei o que tinha feito e dei de frente
com a nostalgia. O coração disparou e eu fechei os olhos.
De repente, estava em um corredor desconhecido e, no fundo,
com uma porta branca. Um branco impecável, de doer a vista. Fui até o fim e
entrei.
Entrei em um ateliê impressionante e mágico. A sala era
grande e luminosa. A claridade se destacava com cores por todos os lados, das
paredes ao chão, dos quadros aos corpos. Diversos quadros espalhados, bancada
com tintas, pinceis. Na parede uma grande prateleira cheia de livros e, no
centro da sala, um piano. Cores vivas remediavam à primeira vista. Tons de
amarelo, verde, natureza. Tudo era vivo, cores de alegria, de sorriso e
esperança.
E, perdido no meio de tantas cores, no canto da sala, um
quadro branco. No quadro branco se destacava uma pincelada, idêntica a que dei
na parede de casa, de um canto ao outro. As cores difusas, destacavam o branco,
a angústia, a solidão.
Meu coração disparou novamente. Era uma sensação de estar
chegando próximo de quem eu queria, de estar desafiando o destino, a distância
e as consequências.
Com o pincel ainda nas mãos e de costas, ela soltou palavras
que preencheram o vazio que há muito tempo existia. Ela estava ali, inteira,
viva, ainda interligada a mim.
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