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18.5.13

#36 - Fragrância

Maria Menshikova - Moscow, Russia

Já virou banal eu tentar descrever o quanto sofro com a sua ausência. Meu coração jamais aprendeu a suportar a solidão.

Hoje o dia não foi diferente, acordei angustiado, desequilibrado, sozinho. Uma tortura constante e desesperadora. A distância é cruel. A loucura está mais próxima do que sempre imaginei, me faz delirar, me tira os sentidos. Descubro-me a cada momento.

Decidi encarar o sofrimento e toda dor que pudesse sentir. Abri a caixa que ela me mandou. Ali eu encontrava a essência de diversos momentos que vivemos. Tenho contato com um pedaço, quase inteiro, da nossa história. Peguei o frasco de perfume que ainda estava na metade. O objeto que eu mais temia pegar. Dentro daquela essência as lembranças são inevitáveis, basta fechar os olhos para que eu a tenha presente.

No centro do quarto, no pé da cama, de olhos fechados, com o frasco de perfume no nariz. Eu respirava pausadamente e deixava-a entrar, cada vez mais, dentro de mim. Ela estava condensada naquela fragrância que me remetia ao passado. Remetia a todo o amor que sentia.

Comecei a girar cada vez mais rápido em torno de mim. Não pensei duas vezes, espirrava aquele perfume por todos os lados. Queria trazer ela de volta, queria deixá-la mais próxima. Espirrei em toda a cama, no edredom, travesseiro e naquela nossa lembrança.

Uma fragrância imune ao tempo resgata qualquer mínimo detalhe de nós. Uma fragrância que eterniza o amor e preenche esse vazio que é a vida sem você.

Após momentos de delírio com o frasco na mão, deixei-o no chão e me joguei na cama, agora encharcada de perfume e lágrimas. Joguei-me como se estivesse afundando em um buraco escuro, jogado no precipício.

Abracei o travesseiro como uma criança abraça a mãe quando tem medo de algo. Abracei com toda a força do mundo. Nunca mais queria sair dali. Eu a sentia do meu lado, nos meus braços. Tinha ela de volta, mesmo que por pouco tempo e com os olhos fechados. Seu cheiro se materializava em mim. 

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