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31.5.13

#23 - O tempo

Lucas Bois - Belo Horizonte, Brasil

O tempo passa. 
Passou.
Tudo que passou sem você aqui  foi irrelevante e cada palavra sua, pra mim, é uma declaração de amor.
Flui tão rápido que só percebemos quando chega o futuro.

O tempo parou. 
A minha única saída é o sono.
Dormir pra ver se ele passa mais rápido e acordar quando você estiver aqui.

E com o tempo,
Nosso amor virou dependência.
Fiquei dependente de você. Logo eu, que sempre me julguei independente de tudo e todos.
Fiquei dependente de um amor, esse amor que me leva, que nos leva, para o infinito. 
Nos leva para a eternidade. A nossa eternidade.

Eu te amo.





30.5.13

#24 - A lembrança faz o meu amanhã


Foto de Murilo Cambuzano


Quando você partiu eu pensei em fazer loucuras, mas fiquei impotente. Não tinha força pra nada, enquanto essa distância se transformava em feridas que se alastravam aos poucos.

Sentir você longe machuca tanto que por alguns momentos pensei em contrariar os desejos e abraçar de vez a solidão. Desistir. Deixar a covardia tomar conta de tudo.

Enquanto a ausência preenche esse presente, o passado me dá forças. Vivo de lembranças o tempo que for preciso. Já pensei em jogar tudo fora: nossas cartas, fotos, desenhos. Não passou de pensamentos tolos. A covardia não resolve, e essas lembranças me dão forças pra te esperar. Cada detalhe que você deixou em mim é sinônimo de vida e alegria.

Coloco a ansiedade no bolso e aguento. Não enxergo vida sem você ao lado. Não enxergo nenhuma estrada, nenhum caminho. Ando sobre um muro de espinhos, entre a vida e a morte, entre a alegria e a solidão, entre a prova de amor e suicídio que é a sua ausência em mim.

Abro mão de tudo que for preciso para esboçar o futuro ao seu lado. Descobri que dentro desse existe a maior felicidade da minha vida. Descobri que esse futuro é o único caminho para o meu amanhã. Eu te espero o tempo que for preciso e, juntos, vamos realizar todos nossos sonhos. Nada e nem ninguém nos poderá impedir disso.

29.5.13

#25 - Lolita



Peguei um desses romances clássicos que nos encantam a cada linha e nos levam a outra dimensão da realidade. Uma realidade paralela criada por escritores excepcionais. Esses romances que são eternos e que em cada frase têm uma mensagem que faz sentido pra nós.

Pois então, era Lolita, de Nabokov.

Eu abri o livro e você tomou forma. A primeira página trazia a dedicatória que havia feito quando me presenteou. Só de ver suas letras senti uma espécie de aconchego e proximidade. Você, junto com Lolita, se aproximava de mim naquele momento, tomava forma.

Na dedicatória você dizia: “Eu nunca vou parar de te olhar, nunca. Feliz um ano de namoro”.


Hoje já são meses que se passaram sem você me ver, mas não a culpo, pois daquela nossa brincadeira, de dar livros um para o outro nos aniversários de namoro, restou essa dedicatória. Uma dedicatória eternizada com Lolita.

28.5.13

#26 - Quase uma crônica cinematográfica



O cinema para o casal, no começo do relacionamento, é essencial. É feito de etapas, e a nossa não foi diferente.

No começo, o cinema é o melhor programa pra se fazer. A ocasião certa para os primeiros encontros. O único problema é que não sabemos contar como foi o filme após a sessão.

Depois vem a fase que conseguimos medir a qualidade do filme. Nos momentos fortes estamos vidrados na tela, enquanto meu braço está a envolvendo e a sua cabeça repousa no meu ombro. No momento ruim, rola aquele beijo lento, suave e romântico.

Depois, infelizmente, vem a fase do beijinho antes do filme começar. Durante o filme, no máximo um selinho. O que vale mesmo à pena é o momento junto, abraçados, quentinhos e um bom filme pra contar depois.

O problema é que eu cheguei na fase em que o cinema é sinal desespero, de tortura. Cinema sem você não faz sentido.

Olhar ao lado e não ter ninguém pra repousar o braço é tragédia.

Cinema sozinho é pedir para dormir. É desestimulante para um apaixonado.

É passar frio. É passar por cima da vontade tentadora e não comprar pipoca.

É acordar no fim do filme e chorar vendo os créditos.

É fazer de tudo para que nenhuma atitude marque a sessão, para que ela passe em branco como todos os dias sem você.


É fazer com que você traga o verdadeiro significado pra mim.

27.5.13

#27 - Dia 27

Nataly Borodina - Russia


Postagem de número 27 no dia 27. O último longe de você.

O tempo passa e nós não percebemos.

O cabelo muda.
A barriga muda.
A voz muda.
A cor muda.
A rotina muda.
A cabeça muda.
A distância muda.
A casa muda.
Tudo muda rápido.

O tempo deixa lembranças pra trás. Algumas, eternizadas no dia 27.

Resistente ao tempo, a rosa que eu te dei no dia 27 não ressecou.
O beijo que te dei no dia 27 ainda não acabou.
Aquele dia 27 existe em nós todos os dias.



26.5.13

#28 - Sentados na lua



Caminhava pelo acostamento. O farol dos carros me cegava. Andava em frente sem saber onde pisar. Apenas seguia, sem medo do que vinha, sem medo do destino. Estava entre o campo e a cidade, estava entre a metrópole e a solidão

De repente, não tinha mais nenhum carro na pista. Caminhava só. Olhei para cima e vi um céu estrelado. Estrelas se distribuíam como em uma obra de arte.

Três delas começaram a piscar e locomover. Uma delas, vermelha. O avião andava cada vez mais baixo, parecia pousar próximo dali. Depois que ela foi embora todo avião era sinônimo de esperança, a esperança de trazê-la de volta.

Entrei em uma estrada de terra a minha esquerda. Dessa vez a lua cheia era quem apontava no horizonte. Tão cheia que ocupava os extremos da estrada. Uma claridade perfeita, amarela, intensa. A imensidão absurda ficava próxima de mim. Um céu em sincronia. 

Fechei os olhos e desejei tocá-la.
Abri os olhos e vi as estrelas do avião saindo da minha frente.
Ela estava do meu lado e nós estávamos sentados na lua.

Olhei pra ela e sorri sem acreditar no momento. Estávamos sobre tudo. As estrelas, agora, ainda mais próximas. Podíamos tocá-las. As luzes da cidade ao fundo criavam um segundo céu estrelado e o breu do campo ganhava a nossa claridade. 

Juntos entre dois extremos: Estrelas e escuridão. Cidade e campo. Sonho e realidade.



25.5.13

#29 - Vulneráveis

Bel Diniz - Belo Horizonte


Somos vulneráveis ao mundo, ao tempo e momento.
Vulneráveis demais para vivermos sem proteção.
Somos vulneráveis sem ser, temer ou viver na escuridão.
Brincamos de se equilibrar na soleira do vigésimo andar.
Pulamos do avião sem saber se o paraquedas vai abrir.
Mergulhamos o mais fundo, profundo, sem saber se dará tempo de subir.
Carregamos em nosso beijo um balão de ar
Andamos pelados em uma praia popular
Aceleramos o carro a 200 por hora na serra dos Tamoios
Pegamos “jacaré” na onda gigante sem saber nadar.
De carona na Jubarte entramos em alto-mar.
Chegamos na ilha deserta sem ter como voltar.

Nós lemos aquele livro sem saber o fim.
Nosso amor nos protege, e vivemos uma história assim.

24.5.13

#30 - Casinha simples

Mike Hedrick - USA


Uma casa pequena. Amarela.
Um jardim imenso. Florido.
Uma árvore em frente. Mangueira.
Na mangueira uma balança. Na balança nossas crianças.
Na porta de casa. Dois cachorros.
Mais pro fundo, um lago.
No lago, vários patos. Peixes.
Do outro lado, um pasto.
No pasto, os bois e cavalos.
A vaca no curral.
A galinha no galinheiro.
O porco no chiqueiro.
Os pássaros em todo lugar. Piam, cantam, encantam.
Você na janela me observa vindo do curral com o leite da manhã.
Os cachorros correm até mim. As crianças também.
Cachorros pulam. Crianças abraçam. Eu olho pra você.
Nossos olhos reconhecem um sonho.


Choro em frente ao quadro enquanto você retoma as notas no piano.

23.5.13

#31 - A memória se desfaz

Ivan Ovchinnikov - Russia


Voltei ao ateliê. Ela tocava uma música no piano e não me percebeu entrando. Tocava tão bem.

- Você nunca tocou piano, como é que agora está tocando tão bem?

- Eu aprendi, oras. O tempo passa. Mas não é só o tempo, existe outra coisa nisso tudo.

- A saudade dói tanto. Olha pra mim?

- Não, não vou olhar. Você precisa respeitar as coisas, eu já disse.

- Eu estou respeitando.

- Mas precisa ainda mais. Passar por momentos difíceis significa amadurecer. Não pense que não está doendo em mim.

- Você não me deu resposta quando partiu, e eu acreditei apenas no nosso amor. Eu confiei em você.

- E deixou de acreditar? Continue confiando.

- A memória vai embora aos poucos e eu tenho medo de tudo que se desfaz. Um medo tão forte. É tão ruim deixar você ir embora pelas lembranças.

- Tudo se desfaz propositalmente. O tempo não engana ninguém.

- Mas eu não quero deixar ele se desfazer. Desaprendi a viver sozinho.

- As lembranças são vertentes do tempo, saiba disso.

- A memória também.

- Eu terminei aquele quadro, amor.

Eu fui até o quadro e de imediato senti a profundidade da pintura na nossa história. Ela conseguiu atingir o meu ponto fraco. Esperanças bailavam em mim, em nós, até que ela começou a tocar uma música no piano. Aquelas notas fizeram com que eu embarcasse em outra dimensão da nossa história. 

(continua amanhã)

22.5.13

#32 - Castelo na Areia

Leonor Reis - Porto, Portugal


Lembra quando brincávamos de construir castelo na areia? Éramos duas crianças se amando e brincando de inventar o amanhã.

Naquele dia construímos o maior castelo de todos. Conseguimos. Dizíamos que seria a casa onde moraríamos com nossos filhos. Tenho até hoje a fotografia.

Logo depois da foto começou a ventar muito forte e derrubou a torre direita do castelo. Olhamos um para o outro assustados e começamos a tentar reconstruí-la. Começou a chover. Era tarde.

A chuva levou todo o castelo, e nós vimos nosso sonho se esvair.

Estávamos encharcados. Você, com seu vestido de seda florido, olhava para o castelo indo embora com a água e gargalhava. Eu chorava e soluçava.

Você então sorriu e me abraçou toda encharcada. Me apertou forte contra o peito e disse: “Amanhã eu terei uma surpresa”. Levantou e correu, dançou, pulou e se foi pelo meio da rua.

No dia seguinte construímos o nosso castelo de argila.

Você me abraçou e sussurrou: “O nosso sonho será pra sempre”

21.5.13

#33 - Dormi no ônibus

Jan Stel - Amsterdam, Holanda


Peguei o ônibus errado.

A cabeça encostada no vidro observa o mundo lá fora. Ele passa por passar. Ora rápido, ora devagar.

Não encontro seu olhar na rua, e as lembranças se desfazem em farelos que o vento leva embora.

O destino parece não chegar, nem se aproximar de você.

Quero o sono. Talvez seja a única saída. 

20.5.13

#34 - Cárcere

Roberta Monteiro - Minas Gerais, Brasil


Às vezes parece que eu estou voando. Meus pés não tocam o chão. Flutuo em um mar de pensamentos, sentimentos, desejos. Desejo de tudo que planejamos e sonhamos juntos. Sonhos de um conto de fadas. Construímos um mundo paralelo ao real e nele nos alimentamos, preenchemos a necessidade de tornar o “era uma vez” uma realidade.

Dentro dos sonhos construímos nossa história. A cada dia percebemos que esses sonhos viram realidade, aquilo que muitas vezes falamos da boca pra fora começa se concretizar. Nos une ainda mais. Tornamos a mesma pessoa, nos tornamos o mesmo ser.

Enquanto esse sentimento se consolidava, chegava a um estágio de amadurecimento, num estado quase perfeito, você decidiu partir. Decidiu arrumar as malas e não dar satisfação pra onde ia. O jogo virou. Agora você cultivava a liberdade e fazia da estrada o elo que nos separava.

A liberdade é uma ilusão pra quem ama. De repente me sinto cruelmente dependente. Preso. O tempo provou que eu dependo do seu amor. Eu entrego-me para essa prisão. A dependência é uma escolha e eu quero ficar preso a você.

Enquanto alguns fogem da dependência, enquanto alguns preferem a liberdade e a autonomia eu me prendo ao ridículo. Quero que todos me chamem de ridículo. Quero a contra mão do quê todos vão dizer, do que todos vão achar. Quero o discurso do mundo jogado no lixo.

Dias de tortura me consomem sem você. Construímos o que há de mais singelo e sincero e fomos traídos pelo destino, pela distância. Nessas palavras eu espero os dias passarem, espero o calor se aproximar de mim com sua presença. Espero você chegar e me tirar dessa carência.


19.5.13

#35 - Você resolve

Roberto Cambusano


Estava sentado em um banco da praça, no centro da cidade. Um homem sentou do meu lado e perguntou:

- Amigo, por favor. Hoje vai chover?

Obviamente, olhei pra ele com uma cara de desprezo e respondi:

- Não sei. Isso não me importa.

Ele continuou do meu lado. Pareceu não se importar com a grosseria. Eu mantinha o silêncio e olhava pra frente.

- Deu uma esfriada, né?!

- Sim.

- Você tem horas?

- Não. Isso também não me importa.

- Você tem algum amor?

Não entendi o motivo da última pergunta. Fiquei quieto. Deixei-o falando sozinho.

- Você está sem um amor. Você está precisando amar.

Perdi a paciência. Quem era esse "qualquer" que para do meu lado pra dizer o que eu preciso ou não fazer? Um otário.

- Eu amo.

- Saber que você ama eu sei, mas sofre pela ausência.

- Isso não é da sua conta.

- Não mesmo, mas você poderia ao menos disfarçar.

- Quem é você pra dizer o que eu devo ou não fazer?

O rapaz se levantou e saiu. Pra mim nada importava. Nem o tempo, nem a hora. O amor era feito de lembranças.

Voltei pra casa. Só de entrar no apartamento eu já dava de cara com a solidão, era inevitável. Fiquei pensando o que aquele rapaz queria comigo. Como ele conseguir cutucar a minha maior ferida. Por um momento me arrependi de não ter continuado a conversa. Sentia a necessidade de desabafar, falar o que eu sentia sem censura. Falar o que tomava conta de mim. Mas não tinha jeito, não tinha saída.

A solidão existe  minh'alma e só a sua presença conseguirá suprir a isso.

18.5.13

#36 - Fragrância

Maria Menshikova - Moscow, Russia

Já virou banal eu tentar descrever o quanto sofro com a sua ausência. Meu coração jamais aprendeu a suportar a solidão.

Hoje o dia não foi diferente, acordei angustiado, desequilibrado, sozinho. Uma tortura constante e desesperadora. A distância é cruel. A loucura está mais próxima do que sempre imaginei, me faz delirar, me tira os sentidos. Descubro-me a cada momento.

Decidi encarar o sofrimento e toda dor que pudesse sentir. Abri a caixa que ela me mandou. Ali eu encontrava a essência de diversos momentos que vivemos. Tenho contato com um pedaço, quase inteiro, da nossa história. Peguei o frasco de perfume que ainda estava na metade. O objeto que eu mais temia pegar. Dentro daquela essência as lembranças são inevitáveis, basta fechar os olhos para que eu a tenha presente.

No centro do quarto, no pé da cama, de olhos fechados, com o frasco de perfume no nariz. Eu respirava pausadamente e deixava-a entrar, cada vez mais, dentro de mim. Ela estava condensada naquela fragrância que me remetia ao passado. Remetia a todo o amor que sentia.

Comecei a girar cada vez mais rápido em torno de mim. Não pensei duas vezes, espirrava aquele perfume por todos os lados. Queria trazer ela de volta, queria deixá-la mais próxima. Espirrei em toda a cama, no edredom, travesseiro e naquela nossa lembrança.

Uma fragrância imune ao tempo resgata qualquer mínimo detalhe de nós. Uma fragrância que eterniza o amor e preenche esse vazio que é a vida sem você.

Após momentos de delírio com o frasco na mão, deixei-o no chão e me joguei na cama, agora encharcada de perfume e lágrimas. Joguei-me como se estivesse afundando em um buraco escuro, jogado no precipício.

Abracei o travesseiro como uma criança abraça a mãe quando tem medo de algo. Abracei com toda a força do mundo. Nunca mais queria sair dali. Eu a sentia do meu lado, nos meus braços. Tinha ela de volta, mesmo que por pouco tempo e com os olhos fechados. Seu cheiro se materializava em mim. 

17.5.13

#37 - Seu sorriso é o melhor caminho

Fabrizio Ciuffatelli - Roma, Itália



Hoje o mundo amanheceu sem nenhum sorriso. O céu não sorria, trovejava. As pessoas sobreviviam, apenas. Sabia que você não sorria aí, eu não sorria aqui, e o sentimento de impotência me atinge de forma devastadora. Uma vontade: te fazer sorrir.

Eu faço o mundo do jeito que você pedir. Eu faço do mundo o impossível. Crio um mundo perfeito. Crio um mundo em que tenha lugar para nós dois. Crio em cada pedaço do seu corpo. Da cabeça aos pés. Crio o meu mundo dentro do seu sorriso.

Ele é o termômetro daquilo que sinto. É o termômetro do que vivemos. Inevitável.

Espero-o para sorrir. E, na ausência, sofro, meu peito se esmaga em escuridão. Sofro pela ausência de tudo que pertence a você. Quero um sorriso sincero. Quero um semblante perfeito.

Seu sorriso meigo, alegre, carinhoso, acolhedor, orgulhoso, contagiante, sincero, de orelha a orelha.

No seu sorriso eu crio o nosso hoje, amanhã, o nosso ‘pra sempre’.
No seu sorriso eu sobrevivo.
No seu sorriso eu te amo.

16.5.13

#38 - Amor, pra qual time você torce?



No começo...

- Amor, pra qual time você torce?

- Pra nenhum, odeio futebol.

- Um dia você vai torcer pelo timão.


No meio...

- Amor, me ajuda a torcer para o Corinthians?

- Claro amor, o Corinthians vai ser campeão, você vai ver.

- Amor, Corinthians campeão!!!

- Eu disse amor, timão eô, timão eô


No fim...

- Amor, hoje tem jogo do Corinthians.

- Tem? Nossa, vamos Corinthians, vamos... Ele vai ganhar... Qual campeonato que é?

- Libertadores.

- Igual ao ano passado em que eu te dei sorte?

- Sim amor, você vai me dar sorte de novo.

- Claro amor, timão é timão, ninguém segura. Vamos, vamos meu timão, não para de lutar.

- Cassilda, o timão está perdendo...

- Calma ele vai virar, você vai ver...

- Amor, o Corinthians perdeu.

- Aff, que bosta. Agora não vou poder continuar assistindo libertadores com você. Que saco.

- Amor, não era você que não torcia pra time nenhum?

- Sim amor, mas hoje eu torço pelo Corinthians. No começo foi só para ficar do seu lado, mas agora esse time me conquistou. Paixão eterna.

- E a sua paixão por mim, também é eterna?


 No conto de fadas...

- Amor, como vai ser o nome do nosso filho?

- Timão.

- Sabia que seria eterno.

15.5.13

#39 - Como literatura

Evgeniy Stepanets - Ucrânia

Eu te leio como literatura, nossa verdade nua e crua e nada que possa mudar. 
Eu te leio como literatura, decifro todo o seu corpo em simples sinais.
Eu te leio como literatura, em um livro em branco de olhos fechados
Eu te leio como literatura, mas sem você eu não sei ler.

14.5.13

#40 - Eu quero cinzas




O passado antes de você foi insignificante.

O que mais me torturava era que você sofria pelo meu ontem.

Peguei uma lata e decidi queimar o resto das lembranças que existiam em mim. Nada antes de você me é relevante. Iria bailar em uma cerimônia de liberdade.  Pensar no ontem já me doía e por isso ia eliminar os resquícios que ainda sobravam. Eliminei.

Queria apenas ter te esperado, como espero hoje. Não precisava de mais ninguém.

Escrevi em fragmentos diversas referências que remetiam ao passado, amassei e coloquei na lata. Acendi um fósforo e fiz questão de acompanhar o fogo tomar posse de cada pedaço dos papéis. Alívio.

As chamas estavam formadas no chão da sala. Um espetáculo. Aos poucos comecei a sorrir e a me sentir aliviado. Pulava de alegria. Todos os papéis iam embora, o meu passado ia embora. Não precisava de nada que agora virava cinza. Nada foi importante e eu só descobri isso com você do meu lado. Meu passado agora só existia dentro da nossa história. Do dia que nos conhecemos até você ir embora.

Tinha esquecido que o meu hoje era sem você. Esquecido a dor de não ter você no meu dia. Mas, uma certeza eu tinha, que onde você estivesse estaria sorrindo. 

13.5.13

#41 - Ontem



Mariana D'Ornellas - Curitiba-PR

Segunda foto. Segundo mês.

Os dias se descaracterizavam. Os objetos e fotos da caixa alimentam sentimentos que devastavam o meu eu.

O sentimento de que o ontem foi melhor do que o hoje é inevitável. Reviver o passado é covardia. Ainda mais quando esse passado preenche o vazio que existe em nós. O passado de momentos que nem sabemos se um dia vai se repetir. Tudo que passamos é  melhor do que a solidão e angústia de hoje.

Mas o passado antes de te conhecer não foi melhor do que nada. O melhor começou em você. Eu só descobri a alegria, o sorriso, o preenchimento do vazio da alma, o amor de verdade, junto com você. Vivíamos em uma bolha, inertes a tudo que nos cercava.

Apenas o segundo mês juntos e parecia que estávamos tirando uma foto do nosso casamento. Esse é o problema. Passávamos a todos essa segurança, pelo olhar. Nossos olhares já pertenciam ao futuro. Se a culpa fosse só do olhar, ou das estrelas, não teríamos problemas. Mas o problema surgiu do coração e no dia dessa foto percebi que realmente estava gostando de alguém. Poderia gostar de alguém de verdade. Não era impossível. E, em um passe de mágica, todos meus falsos amores caíram por terra te colocando como a única.

Foi então que, em uma coincidência tradicional da nossa relação, na hora de nos despedirmos na porta de casa, nos olhamos sincronizados e dissemos: Eu te amo.

12.5.13

#42 - Feliz Dia das Mães

Lauro Monteiro - Paraty-RJ


- Fled, puique sela que o papai levou flores pra mamãe na cama?

- Porque hoje é dia das mães.

- O qui é dia das mães?

- É o dia feito em homenagem as mães. Temos que fazer tudo o que a mamãe quiser. O dia em que os filhos têm que comprar presente, fazer carinho, beijar e agradecer a mamãe por nos ter colocado no mundo.

- Então hoje u que a mamãe falar a zenti vai fazer?

- Sim. Temos que fazer ela feliz o dia inteiro. E não podemos brigar, somos irmãos e temos que fazer a mamãe sorrir.

- O papai também é filho da mamãe? Ele também tem que fazer tudu qui ela pidi, né?

- Não Sofia, é que sem ele a gente não nasceria. Foram os dois que nos fizeram. Graças ao papai é que nós nascemos da barriga da mamãe. Graças ao papai é que a mamãe é mãe. E se não fosse o papai a gente não iria existir. E graças a mamãe que o papai é pai. E graças a ela também que somos uma família. Entendeu?

- Num tendi. Maisi Fled puique não vamos ablaçar a mamãe agola?

- Porque o papai pediu para ficarmos aqui. Quando ele aparecer na porta com ela no colo você joga essas rosas que estão dentro da sacola pra cima, tá?

- Não fled, a floizinha dentro da sacola é vermelha.

- Sim, joga a florzinha vermelha pra cima então, agora, vai Sofia e grita: “FELIZ DIA DAS MÃES MAMÃE MAIS LINDA DO MUNDO”.


Chega um momento da vida onde aparece outra mãe no nosso caminho. Aparece aquela que permite que sejamos a pessoa mais feliz e realizada do mundo. Aquela que carrega dentro de si um pedaço eterno de nós. A mãe de nossos filhos. 

Dentro de nossos sonhos a paciência é cultivada, os dias são contados para que essa alegria preencha a necessidade. Feliz não é aquele que vive o amanhã, mas sim quem valoriza o hoje, sabendo que se o amanhã chegar trará consigo a felicidade e a realização.

11.5.13

#43 - Alicerce

Alessandro Assunção - Paraíba - Brasil



Em mural improvisado coloquei a foto do nosso 1º mês. Era uma das dezoito fotos da caixa. Como era bom resgatar o que o tempo deixou pra trás. Éramos apenas duas crianças.
  
Nunca soube o que é namorar de verdade. Sempre fui melhor amigo da liberdade, típica dos homens. Não deixava eu me prender em você, talvez por medo, talvez por orgulho. O tempo, no entanto, me provou ao contrário. O tempo me prendeu em você.

Nos encontramos após a ressaca de amores passados. Um passado de ilusão. Ilusão de confundir amor com um grão de areia.

Uma atração forte já nos primeiros dias. A diferença é que os dias eram um após o outro. Não nos permitíamos pensar no futuro. O dia era um jogo e eu me doava na esperança do amanhã. Jamais imaginaria que seria assim, como foi o primeiro mês.

O mundo parou só pra pensar em você. Ainda não conhecia seu mistério, cada curva do seu corpo. Ainda não sabia o verdadeiro sabor do seu beijo. Decifrava aos poucos um olhar ambíguo e mágico.

Começamos a procurar juntos os nossos refúgios. Os dias pareciam semanas. As semanas, meses. E o intenso pareceu brincadeira perto da leveza em que tudo fluía. Achávamos significados em cada ato, achávamos magia em cada beijo.

Interpretava a sua timidez e o silêncio nunca foi tão preenchido. Os abraços nunca foram tão quentes. Prendíamos-nos por medo. Adiávamos a despedida com medo de não haver o reencontro.

E agora, esse reencontro ainda é uma incógnita. Nesse conta-gotas de memória revivo o passado. Como nossos primeiros dias, sem saber o futuro, sem saber o amanhã. 


10.5.13

#44 - Crônica - Cabra-macho não se esconde


Sterling Clinton Hundley - Richmond, VA, USA

Quantas vezes nos fizemos de bobo apenas para se aproximar? Apenas para sentir a pele dela na sua?

Quantas vezes trememos quando chegamos perto da pessoa amada? Quantas vezes ensaiamos antes o que imaginávamos que íamos falar no primeiro encontro e na hora tudo travou? É o medo de travar. O medo do fracasso. Realidade do amor. Realidade dos primeiros encontros.

O fracasso anda junto com o amor. O medo do fracasso também. Mas é forte aquele que passa por cima e se aventura. Treme, sua frio, mas consegue dizer que gosta. Consegue dizer que ama. Consegue pedir um beijo.

O amar é ser covarde. Covarde por não pedir um beijo. Covarde por não dizer que gosta. Por não dizer que ama. Covarde pelo coração disparar, pela mente travar, por não nos sentirmos capazes. Por achar que tudo é um abismo. Por achar, infelizmente só achar, que ela não tá a fim. Muitas vezes não tá, mas cabra-macho é aquele que arrisca. Aquele que não tem medo de levar um fora. Que não se esconde. 

Cabra-macho é aquele que não liga para o que os outros acham e chega junto. Tem pegada e diz tudo com o olhar.

Cabra-macho é aquele que fala o que precisa e não deixa o amor ir embora. Amar também é oportunidade, se ela for embora, talvez não conseguimos de volta.

9.5.13

#45 - O começo ou o fim sempre volta

Janira Muños - Barcelona



- Foi mais fácil do que pensou?

- Tudo que eu queria era te ver.

- Está me vendo.

- Olha pra mim.

- Você tem que respeitar o tempo das coisas.

- Só quero olhar pra você.

- Então espera. Tudo tem o seu tempo.

- E por que você foi embora sem me falar nada? Sem me falar pra onde?

- Por que a vida nem sempre cabe na palma das mãos.

- Digo o mesmo pra você. Vai ficar de costas?

- Estou pintando.

- Eu te amo.

- Eu também.

- E o que é tudo isso aqui?

- Dê tempo ao tempo.

- E esse quadro que você está pintando? É o mesmo traço que eu fiz na parede.

- Foi uma maneira de te trazer até aqui. Primeiro você vai ter outras coisas pra fazer, pra resgatar. E depois vai saber o porquê desse quadro.

- Quais coisas? Eu só quero você por perto, quero você comigo.

- Mas é com essa distância que você vai valorizar todo o nosso amor.

- E você está dizendo que eu nunca valorizei?

- Não disse isso. Quero apenas que você dê tempo ao tempo. Na caixa que eu te enviei tem outros objetos. Saiba tirar a mensagem de cada um deles, todos têm um motivo para estarem ali. E, por último, vai começar a nossa melhor brincadeira, aqui dentro desse ateliê.

- Quanto tempo?... Ei, fala comigo...


Por fim, estava de volta a sala, com o pincel na mão. Olhava para a parede sem entender nada. Chorei sem perceber. E, de novo, parecia que tudo estava começando do zero. Todo o sofrimento, toda dor. A dor pela saudade, pela incógnita. A dor pelo amor.

8.5.13

#46 - Pincelada

Arte de Lauro Monteiro - Paraty, RJ, Brasil.


O objeto que mais me intrigou na caixa foi o pincel. Não por ser apenas um pincel, mas por estar com a tinta ainda fresca. Fez com que eu a sentisse mais perto de mim, mais real, fresca, possível, e em nenhum momento abstrata.

Com a tinta que ainda havia ali, eu pincelei a única parede totalmente branca de casa. Uma curiosidade de fazer o impossível, fazer o irreal por aquela que me deixou. Aquela que eu mais amava. A pincelada foi de um canto a outro da parede. Na imensidão branca que se abriu, aquela aquarela de cores variadas, difusas, se espalhava em apenas uma faixa no centro.

Quando eu terminei, olhei o que tinha feito e dei de frente com a nostalgia. O coração disparou e eu fechei os olhos.

De repente, estava em um corredor desconhecido e, no fundo, com uma porta branca. Um branco impecável, de doer a vista. Fui até o fim e entrei.

Entrei em um ateliê impressionante e mágico. A sala era grande e luminosa. A claridade se destacava com cores por todos os lados, das paredes ao chão, dos quadros aos corpos. Diversos quadros espalhados, bancada com tintas, pinceis. Na parede uma grande prateleira cheia de livros e, no centro da sala, um piano. Cores vivas remediavam à primeira vista. Tons de amarelo, verde, natureza. Tudo era vivo, cores de alegria, de sorriso e esperança.

E, perdido no meio de tantas cores, no canto da sala, um quadro branco. No quadro branco se destacava uma pincelada, idêntica a que dei na parede de casa, de um canto ao outro. As cores difusas, destacavam o branco, a angústia, a solidão.

Meu coração disparou novamente. Era uma sensação de estar chegando próximo de quem eu queria, de estar desafiando o destino, a distância e as consequências.

Com o pincel ainda nas mãos e de costas, ela soltou palavras que preencheram o vazio que há muito tempo existia. Ela estava ali, inteira, viva, ainda interligada a mim.

7.5.13

#47 - Amar é viver em um mundo particular

Lione Bakker - Netherlands

Dizem que quando duas pessoas se amam elas ficam bobas. Começam a se tratar de maneira diferente, a falar igual criança, a fazer caretas que só elas têm, começam a descobrir os lugares que o outro tem mais cócegas, começa a rir de coisas bobas e que só fazem sentido para os dois.

Quando duas pessoas se amam, eles criam um mundo particular. Ou dois mundos particulares. Um infinito de mundos particulares, onde o endereço é o amor. No qual a razão é o amor. No qual chega um ponto que o amor é a maior razão que existe entre duas pessoas. 

Um mundo compartilhado nos olhares. Uma comunicação à parte. Uma rede social compartilhada a dois, em pequenos gestos. A rede social de pupilas cheias, de pupilas pequenas, de pupilas brilhantes, de lágrimas. Lágrimas de amor, de tristeza, de raiva, lágrimas de saudade, de amor.

Um mundo compartilhado em sorrisos. Uma infinidade. Sorrisos diferentes, amargos, doces, sem graça. Sorrisos amarelos, forçados, sorrisos de amor. 

Um mundo concentrado no movimento dos lábios. Um mundo concentrado no movimento das sobrancelhas. Um mundo eternizado no abraço. Abraço quente, apertado, encaixado. Quem ama se encaixa. Se encaixa gostoso. Sente o calor do abraço, sente a dor do abraço. Abraçar dói. Abraçar apertado dói. Dói a coluna, dói a costela, tira o ar. Fica amarrado. Imóvel. Imune. Protegido. Abraço de proteção. Continua sem ar. Mas sem ar de amor. Amor tira o fôlego. Amar é compartilhar o mesmo ar que respiramos.

 Amar é viver, compartilhar. Amar é viver uma comunicação a dois. Diferente de todas, em um mundo particular.