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28.4.13

#56 - Sem você não faz sentido

Julien Coquentin - Lassouts, France


O parque já estava praticamente vazio e escuro, e nós deitados sobre as folhas secas. De repente começou uma ventania insuportável, um vento gelado que doía até os ossos. Aos poucos, começamos a nos afastar um do outro. Parecia que o vento puxava os dois para lados opostos. Eu não conseguia me mover, queria correr, me aquecer. Era um frio insuportável. De longe, ela me olhava e ria sarcasticamente. Despedia-se, e eu sem poder fazer nada. Com o vento ela se foi.

Não era possível, como eu não conseguia sair do lugar? O parque já estava escuro e sem ninguém. E o vento aumentava, meu corpo esfriava, até que começou a chover. Quando senti a primeira gota de chuva, comecei a me debater. Parecia uma força magnética me prendendo ao chão. Eu fazia toda força do mundo, e nada me tirava do desespero agonizante. O mundo parecia ser só eu jogado no meio do parque. E aonde ela fora em vez de me ajudar? Será que ela está fazendo tudo isso de propósito?

A água da chuva começou a me arrastar lentamente. Eu não conseguia fazer nada, nenhuma reação. Relei os pés nas águas geladas do lago. Todos começaram a rir. Eu não os via, mas escutava. Aos poucos, aumentava, e eu agoniado naquele meio. Era o barulho do vento, da chuva e dos risos. Estavam gostando de me ver naquela situação. Mas onde estavam todos? Onde ela estava? Por que saiu correndo e rindo de mim?

Abri os olhos assustado, me debatendo e ofegante... As lembranças me resgatam pra mais perto de você, o nosso começo, o nosso primeiro beijo. Agora eu continuo só, como quando me debatia do frio, do vento, dos risos sarcásticos. Nada muda.

Já era noite, e foi impossível não olhar para o céu cheio de estrelas. Mas estrelas não fazem sentido se não temos alguém para dar sentido a elas.

O sonho é uma dor falsa e virtual. A vida real é um sonho com dor, e nós não podemos pedir para acordar. 

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